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29 de julho de 2013

A revolta será curtida e compartilhada (5)

Esta série de posts (que na verdade é só um, dividido para facilitar a leitura) foi um relato pessoal produzido sobre as primeiras manifestações ocorridas nas cidades de Niterói e Rio de Janeiro. Ele está um pouco desatualizado, porque não leva em consideração a continuação dos protestos, mas acho importante deixar registrado aqui - até mesmo para que eu tenha acesso no futuro.
Acesse o post 1 aqui, o 2 aqui, o 3 aqui e o 4 aqui     
                                                       
                                                               Post 5 de 5.


                            “Cuidado, manobra à direita”

Mas nem tudo são flores e os protestos começaram a tomar rumos perigosos. O autoritarismo se faz muito presente nos gritos de “sem partido”. Pessoas começaram a ser agredidas simplesmente por carregarem as bandeiras que acreditam. Não apenas de partidos, mas membros de movimentos anti racismo e homofobia foram agredidos e terminaram seu dia de manifestação no hospital – não por conta da polícia, mas dos próprios manifestantes! – feridos, humilhados. Os cantos patriotas ganham cada vez mais força. Os gritos de “sem vandalismo” ficam cada vez mais altos. Pessoas entregam flores para policiais militares, os mesmos que massacram índios, negros e pobres desde sempre. E eu me pergunto se esse protesto é pela pátria, ou se é pelo povo. Porque se for a segunda opção estamos fazendo alguma coisa muito errada.

Prova disso foi o que aconteceu na Maré, quando dez pessoas foram brutalmente assassinadas. No meio da onda de manifestações, o que poderia ter acontecido? Mais revolta, pelo menos um milhão de pessoas nas ruas, pedidos pelo fim da PM, pelo desarmamento da polícia, pelas vidas de todos, e não só dos filhos da classe média. Mas o que de fato aconteceu? Uma manifestação esvaziada – 5 mil pessoas , miséria perto dos 300 mil do último ato - feita, boa parte, pelos mesmos rostos, as mesmas ONGs, as mesmas pessoas tão criminalizadas quanto os dez mortos. Não vou entrar a fundo (não agora, já que o post está longo e a questão é extensa e profunda) na questão da criminalização da pobreza, no papel da classe média na legitimação de tudo que acontece, mesmo porque existem artigos excelentes tratando especificamente do assunto (manifestações, maré,criminalização da pobreza), como este, de Eliane Brum (NÃO DEIXE DE ACESSAR!!).

Mas o que aconteceu na Maré, da forma que aconteceu e, principalmente, quando aconteceu, me fez questionar no que esses atos se transformaram. É apenas uma marcha vazia contra a corrupção, pela paz, e contra tudo e todos?

Provavelmente só vamos ter as respostas daqui a dez anos, em algum livro de história. Mas tenho medo do que meus filhos vão ler sobre as manifestações que participei. Será que eles vão sentir orgulho ou a mesma vergonha que sinto ao estudar a  “Marcha pela Família com Deus pela Liberdade”? Espero que as manifestações façam um contorno e encontrem um rumo melhor do que este que estão tomando. Porque vai ser triste demais saber que um movimento que tinha tudo pra ser tão bonito e ter tantos resultados foi desperdiçado por conta de tanta ignorância, olhos fechados, ouvidos tapados e discursos deturpados.


É importante frisar que este relato possui uma espécie de "conclusão" devido ao seu recorte: ele  levou em conta apenas as primeiras - e grandes manifestações - ocorridas no Rio de Janeiro, e em Niterói. Em breve terá outro post falando sobre a continuação do movimento. 

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