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“Cuidado, manobra à
direita”
Mas
nem tudo são flores e os protestos começaram a tomar rumos perigosos. O
autoritarismo se faz muito presente nos gritos de “sem partido”. Pessoas
começaram a ser agredidas simplesmente por carregarem as bandeiras que
acreditam. Não apenas de partidos, mas membros de movimentos anti racismo e
homofobia foram agredidos e terminaram seu dia de manifestação no hospital –
não por conta da polícia, mas dos próprios manifestantes! – feridos,
humilhados. Os cantos patriotas ganham cada vez mais força. Os gritos de “sem
vandalismo” ficam cada vez mais altos. Pessoas entregam flores para policiais
militares, os mesmos que massacram índios, negros e pobres desde sempre. E eu
me pergunto se esse protesto é pela pátria, ou se é pelo povo. Porque se for a
segunda opção estamos fazendo alguma coisa muito errada.
Prova disso foi o que
aconteceu na Maré, quando dez pessoas foram brutalmente assassinadas. No meio
da onda de manifestações, o que poderia ter acontecido? Mais revolta, pelo
menos um milhão de pessoas nas ruas, pedidos pelo fim da PM, pelo desarmamento
da polícia, pelas vidas de todos, e não só dos filhos da classe média. Mas o
que de fato aconteceu? Uma manifestação esvaziada – 5 mil pessoas , miséria perto dos 300 mil do último ato - feita, boa parte, pelos mesmos rostos, as mesmas ONGs, as mesmas pessoas tão criminalizadas quanto os dez mortos. Não vou entrar a fundo (não agora, já que o post está longo e a questão é extensa e profunda) na questão da criminalização da pobreza, no papel da classe média na legitimação de tudo que acontece, mesmo porque existem artigos excelentes tratando especificamente do assunto (manifestações, maré,criminalização da pobreza), como este, de Eliane Brum (NÃO DEIXE DE ACESSAR!!).
Mas
o que aconteceu na Maré, da forma que aconteceu e, principalmente, quando
aconteceu, me fez questionar no que esses atos se transformaram. É apenas uma
marcha vazia contra a corrupção, pela paz, e contra tudo e todos?
Provavelmente só
vamos ter as respostas daqui a dez anos, em algum livro de história. Mas tenho
medo do que meus filhos vão ler sobre as manifestações que participei. Será que
eles vão sentir orgulho ou a mesma vergonha que sinto ao estudar a “Marcha pela Família com Deus pela Liberdade”? Espero
que as manifestações façam um contorno e encontrem um rumo melhor do que este
que estão tomando. Porque vai ser triste demais saber que um movimento que
tinha tudo pra ser tão bonito e ter tantos resultados foi desperdiçado por
conta de tanta ignorância, olhos fechados, ouvidos tapados e discursos
deturpados.
É importante frisar que este relato possui uma espécie de "conclusão" devido ao seu recorte: ele levou em conta apenas as primeiras - e grandes manifestações - ocorridas no Rio de Janeiro, e em Niterói. Em breve terá outro post falando sobre a continuação do movimento.
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